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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

ESTADOS UNIDOS: a conquista do Oeste

* A marcha para o oeste
As treze colônias originais, que formavam a América Inglesa, declararam sua independência da Inglaterra em 1776. A partir de então, novos territórios foram incorporados e se expandiram, comprando alguns territórios, conquistando outros, expulsando e dizimando milhares de indígenas no processo. A área ocupada pelos Estados Unidos cresceu onze vezes, passando de 835 mil km² para 9,3 milhões km². Mas essas colônias e novos territórios formavam um país? Essa era uma dúvida que surgiu em várias ocasiões e se manifestou também quando a Constituição dos Estados Unidos estava sendo elaborada. O que era mais importante: o país como um todo ou cada um dos estados que o constituíam? Durante o século XIX, os Estados Unidos De 1780 a 1850 a população doa Estados Unidos cresceu consideravelmente: passou de 5 para 23 milhões de habitantes. Esse crescimento foi causado principalmente pela imigração de europeus, sobretudo, da Inglaterra e Irlanda. Rapidamente, os norte-americanos iniciaram o avanço em direção ao oeste. Livres da metrópole, eles não precisavam mais respeitar a proibição de ultrapassar os Montes Apalaches.
Nos primeiros anos do século XIX, os Estados Unidos negociaram com a França a compra da região da Louisiana. Em 1819, os estadunidenses negociaram a compra da Flórida e de territórios na região do Golfo do México com a Espanha. A intenção de incorporar o Texas, território mexicano, levou os Estados Unidos a uma guerra contra o México. Vitoriosos, os Estados Unidos anexaram a região e os atuais estados da Califórnia, Arizona, Novo México, Oklahoma, Colorado, Idaho e parte de Utah.
A expansão dos E.U.A. foi tão rápida quanto violenta e deixou dois saldos opostos. De um lado, representou o nascimento da nação que se tornaria uma das potências mundiais no século XX. De outro lado, trouxe a dizimação da maioria dos indígenas que viviam nas regiões anexadas ao Estado norte-americano.
* A formação de um país - Para garantir a ocupação do oeste, em 1862 o Congresso dos Estados Unidos promulgou o Homestead Act, a Lei de Terras. Por meio dela, o governo concedia um lote de terra para qualquer família ou indivíduo maior de 21 anos que estivesse disposto a migrar para o oeste e que se comprometesse a torná-lo produtivo no prazo de cinco anos. Essa lei deu à população muitas terras e, com a chegada contrante de imigrantes, favoreceu o desenvolvimento de um amplo mercado interno na região. Devido às características econômicas e sociais, três regiões diferenciadas se formaram nos Estados Unidos, reafirmando alguns aspectos que já existiam desde o período colonial. O norte definiu-se como um grande centro urbano e industrial, enquanto o sul firmou-se como uma economia agroexportadora e escravista. O oeste, por sua vez, emergia como uma área de pequenos agricultores e criadores independentes. A expansão também contribuiu para a construção da identidade do povo estadunidense. Em um país jovem e composto por imigrantes de várias origens e religiões, a ideia de que a conquista do oeste era uma epopeia nacional ajudava a unificar todos os habitantes do território e a fazer com se sentissem "norte-americanos". Um conjunto de mitos e lendas associados à busca do oeste foi forjado e se mantém vivo até hoje.
* O "Destino Manifesto" - Em 1845, o jornalista John O'Sullivan comparou a expansão dos Estados Unidos em direção às terras do oeste a um Destino Manifesto. A ideia foi recuperada da crença dos imigrantes puritanos do século XVII de que a América seria a nova terra prometida, e que seus habitantes seriam o novo povo eleito por Deus para expandir seu poder na região. O'Sullivan defendeu a expansão para o oeste como um destino traçado pela Providência Divina, justificando a necessidade de ocupar, até por meios violentos, as terras que pertenciam aos índios, franceses, espanhóis e mexicanos. Ele alegava que os estadunidenses tinham a missão divina de levar a "civilização" aos povos considerados "bárbaros", "inferiores". A doutrina do Destino Manifesto foi largamente empregada pelos meios de comunicação dos Estados Unidos no século XIX e até hoje está presente no imaginário de muitos norte-americanos.
* As diferenças entre o Norte e o Sul - O crescimento econômico dos Estados Unidos no século XIX ocorria tanto no setor industrial quanto no setor agrícola A produção de tecidos na Inglaterra, que passava pela Revolução Industrial, levou ao aumento da produção de algodão no sul dos Estados Unidos. Em 1850, os E.U.A. eram os maiores fornecedores de algodão do mundo. A grande procura dos produtos sulinos no mercado internacional, em especial do algodão, contribuíram para a manutenção da estrutura escravista colonial. Grandes fazendeiros controlavam as terras férteis e a maior parte dos escravos. Os estados industrializados do Norte, já nas primeiras décadas do século XIX, ultrapassaram o sul na produção de riquezas. A maior parte dos estados já tinham abolido a escravidão e adotado o modelo capitalista de relações de trabalho, baseado na mão de obra assalariada. No campo, as pequenas propriedades rurais permitiram a formação de uma classe média forte e numerosa. Nas cidades, a elite financeira atuava no comércio internacional e nas atividades industriais e bancárias.
Na segunda metade do século, a manutenção da escravidão nos Estados Unidos eram um tema que gerava grande polêmica e dividia o país.
* A Guerra Civil Americana - Consolidada a conquista do oeste, a definição das leis que regeriam cada um dos novos estados tornou-se mais um motivo de divergência entre o Norte e o Sul. A integração das novas terras do oeste norte-americano foi um dos principais motivos que conduziram os estados do Sul e os do Norte dos Estados Unidos ao conflito. Os fazendeiros do sul queriam ampliar as áreas de cultivo de algodão, assim como o modelo de mão de obra escrava que prevaleceria na agricultura de exportação sulista. Os capitalistas do norte, por sua vez, lutavam pela ampliação das áreas destinadas às pequenas propriedades rurais, para que elas abastecessem as grandes cidades da costa atlântica com produtos agropecuários. Além disso, o oeste também poderia ser um mercado consumidor das manufaturas e dos produtos industrializados do Norte.
O projeto econômico a ser adotado pelos E.U.A. foi outro motivo para a eclosão da guerra. Interessado em estimular sua crescente indústria, o Norte defendia o aumento nas tarifas alfandegárias para se proteger da concorrência dos produtos importados e criar um poderoso mercado interno. O Sul, entretanto, queria manter as tarifas baixas para importar a custos mais baixos. Em 1860, Abraham Lincoln, nortista e contrário à extensão da escravidão aos novos territórios, foi eleito presidente do país. O estado da Carolina do Sul reagiu e separou-se dos Estados Unidos. Dez estados seguiram o exemplo e formaram o Estado Confederado da América. A separação foi o estopim da guerra, que se iniciou em 1861.
O conflito, conhecido como Guerra Civil ou Guerra da Secessão (1861-1864), foi vencido pelo Norte e custou cerca de 600 mil vidas. O Norte contava com mais soldados, recursos de comunicação mais sofisticados e, sobretudo, um desenvolvimento industrial que lhe permitiam estar sempre bem armado e abastecido. Também foi importante a liderança política do presidente Abraham Lincoln, que decretou a abolição da escravidão em todos os estados em 1863, dois anos antes do término da guerra.
* A reconstrução do país - Em pouco mais de quatro anos de guerra civil, milhares de pessoas perderam a vida, vítimas dos combates e de doenças como tifo, febre amarela e varíola. O país saiu da guerra politicamente unificado, mas as diferenças que levaram as duas regiões ao conflito permaneceram nas décadas seguintes. O capitalismo industrial passou a comandar os Estados Unidos. Os territórios do norte foram quase que inteiramente preservados na guerra, pois a maior parte das batalhas foi travada no sul. Era preciso, no entanto, reorganizar a economia dos estados do norte, adequá-las aos novos tempos de paz e financiar a reconstrução do país. O sul, ao contrário, estava arruinado. Cidades e fazendas foram atacadas, saqueadas e queimadas. A estrutura econômica do período anterior deixou de existir no momento em que os estados do sul foram obrigados a libertar os escravos. Os grandes proprietários de terra sofreram perdas drásticas e agora precisavam se ajustar a um mundo sem escravos.
A integração da população negra recém-liberta da escravidão, no entanto, não se deu plenamente. A ascensão de milhares de negros à condição de cidadãos provocou outro tipo de guerra: a guerra racial. Ex-confederados criaram, no Sul, a Ku Klux Klan, organização racista de brancos que se recusava a compartilhar direitos constitucionais com os negros, em plano de igualdade. A KKK matou muitos negros, espancou e mutilou vários outros, sempre com um discurso preconceituoso e discriminatório. Agiam na clandestinidade, mas com a tolerância das autoridades, uniformizados com um manto e um capuz branco. Suas vítimas eram, muitas vezes, enforcadas ou mortas na fogueira, pregadas numa cruz. Com a ilegalidade, a Klan perdeu sua força, mas seria revigorada após a Primeira Guerra Mundial, quando se espalhou por todo o país.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A Grécia Antiga

#O território grego - A civilização da Grécia Antiga se desenvolveu na península Balcânica, localizada no Sul da Europa, às margens do mar Mediterrâneo. A península Balcânica possui um relevo montanhoso e poucas áreas de solo fértil. Entre montanhas, existem algumas planícies isoladas. Essa região possui muitas ilhas e tem um litoral bastante recortado. # Os habitantes da ilha de Creta - Antes dos gregos, uma importante civilização já havia se desenvolvido na ilha de Creta: a civilização cretense. Os habitantes da ilha de Creta ocuparam a região por volta de 3000 a.C., alcançando seu apogeu em 2000 a.C. Eles também eram chamados de minoicos, por causa do lendário rei Minos. Os cretenses ficaram conhecidos pelo desenvolvimento de cidades e portos e pelo comércio marítimo que realizavam com outros povos, entre eles os fenícios e os egípcios. Além disso, desenvolveram um tipo de escrita (grego primitivo) e destacaram-se por suas obras de arte e pela construção de grandiosos palácios. Por volta de 1400 a.C., Creta foi invadida pelos micênicos, e Cnossos, sua capital, foi conquistada. # A chegada de outros povos - Entre 2000 a.C e 1200 a.C., a região da Grécia Antiga passou a ser ocupada por povos indo-europeus. Entre esses povos , encontram-se aqueus (2000 a.C.), jônios (1700 a.C.), eólios (1700 a.C.) e dórios (1200 a.C.). # O governo nas cidades-estados gregas - As cidades da Grécia Antiga eram cidades-estado politicamente independentes entre si, e cada uma delas tinha sua própria forma de governo. Eram os habitantes de cada cidade que escolhiam a forma de governo que consideravam mais importantes para eles. Porém, essa decisão geralmente não era pacífica e provocava disputas entre os habitantes das cidades e os líderes do governo. # As diferentes formas de governo na Grécia Antiga * MONARQUIA - O monarca era o responsável pelo comando militar, judiciário e religioso. Ele podia governar sozinho ou com o auxílio de um conselho de nobres. * ARISTOCRACIA - Os aristocratas, grandes proprietários de terras, tomaram o poder dos monarcas e passaram a governar. Nessa forma de governo, o poder ficava restrito a algumas famílias ricas e poderosas. * TIRANIA - Governo de um homem só que tomava o poder por meio da força. Os tiranos geralmente eram apoiados pela população contra o governo aristocrático. * DEMOCRACIA - Forma de governo na qual os cidadãos participavam das decisões por meio das assembleias de cidadãos. Porém, nem todos eram cidadãos. As mulheres, as crianças, os estrangeiros e os escravos não eram considerados cidadãos e estavam excluídos da participação política. # A cidade de Esparta Esparta foi fundada pelos dórios, na região da Lacônia no século IX a.C. Os espartanos se destacaram pela forte tradição militar, motivo pelo qual ficaram conhecidos em todo o mundo grego na Antiguidade. No século VIII a.C., os espartanos já haviam conquistado e subjugado os povos de toda a região da Lacônia e da Messênia. Ao conquistarem esses territórios, dividiram-nos em lotes e distribuíram a terra entre si. Os povos conquistados, denominados hilotas, não eram expulsos ou vendidos como escravos, e sim aprisionados e obrigados a realizar os trabalhos agrícolas para sustentar a população espartana. Além dos hilotas, outros povos que foram subjugados por Esparta também integraram a sociedade espartana. Eram os chamados periecos, pessoas livres que habitavam regiões periféricas de Esparta. Eles não tinham direitos políticos e realizavam atividades ligadas principalmente ao artesanato e ao comércio. # O militarismo espartano - O militarismo era uma marca importante de Esparta. Até completar 60 anos, todos os homens espartanos eram considerados guerreiros. Essa preocupação com a questão militar teve origem, principalmente, nas gerras de conquista. Durantes esses conflitos os homoioi ou esparciatas (camada guerreira e privilegiada de Esparta) dominaram um grupo mais numeroso (hilotas e periecos, razão pela qual se sentiam constantemente ameaçados. Com isso, eles implementaram um rigoroso sistema para a manutenção da ordem nas terras conquistadas, pois muitas vezes os hilotas se revoltavam contra os espartanos. # A educação espartana - A partir dos 7 anos, as crianças espartanas passavam por um rigoroso treinamento físico. Os meninos eram treinados para se tornarem excelentes guerreiros; as meninas, por sua vez, eram preparadas para serem mães de filhos fortes e saudáveis. # A cidade de Atenas Atenas foi fundada na região da Ática no século X a.C. pelos jônios, e tornou-se um importante centro de comércio marítimo. Por isso, seu habitantes mantinham um intenso contato comercial com várias cidades gregas e também com diferentes povos, como egípcios, fenícios e babilônios. Em razão desse dinamismo comercial, Atenas atraía pessoas dos mais diversos lugares, o que gerava um contantes intercâmbio de ideias. Esse ambiente de efervescência cultural é considerado um dos principais motivos que favoreceram o desenvolvimento da democracia em Atenas. # O controle político da aristocracia - Inicialmente, a sociedade ateniense era governada pelos aristocratas, também chamados de eupátridas, que eram grandes proprietários de terras. Eles se consideravam descendentes de bravos guerreiros e heróis que haviam fundado a cidade, e acreditavam que eram "os melhores" (aristoi. Além de controlaresm as terras mais férteis, os aristocratas detinham o poder político e militar de Atenas. # Os excluídos politicamente - Grande parte da população ateniense era formada por pequenos proprietários de terras. Suas terras geralmente eram pouco férteis e eles viviam em condições difíceis. Nos anos em que as colheitas eram ruins, eles precisavam pedir empréstimos aos aristocratas, dando suas terras, ou mesmo tornando-se escravos dos aristocratas, como garantia de pagamento. Os pequenos proprietários não podiam participar das decisões políticas. Além disso, quando não conseguiam pagar suas dívidas, eles eram obrigados a entregar suas terras, ou tornavam-se escravos dos aristocratas.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A Crise do Sistema Colonial

O império colonial espanhol em crise - No final do século XIII, o controle do governo espanhol sobre seus domínios na América foi se tornando cada vez mais difícil. A Espanha já não possuía navios suficientes para fazer a fiscalização de todo o litoral de suas colônias, e essa falta de controle possibilitava aos colonos estabelecerem relações comerciais com outros Estados europeus, contrariando o exclusivo comercial. Em 1700, assumiu o trono espanhol uma nova dinastia, a dos Bourbons. Alguns reis dessa dinastia procuravam agir de acordo com as práticas do despotismo esclarecido. Eles empreenderam algumas reformas políticas, por exemplo, atenuaram o exclusivo comercial, permitindo às colônias um pequeno comércio com outros Estados europeus. Por outro lado, proveram a modernização das instituições imperiais e nomearam novos funcionários para as colônias. O objetivo era melhorar a administração sobre as finanças do governo e aumentar o controle sobre as possessões, além de reforçar o poder da Monarquia espanhola, fortalecendo o sistema de arrecadação dos impostos coloniais.
Os Cabildos e as Audiencias Para administrar suas colônias, o governo espanhol criou os Cabildos e as Audiencias. O Cabildo era uma espécie de prefeitura administrada por um conselho municipal. Os cargos desse conselho eram ocupados pelos criollos, ou seja, os descendentes de espanhóis nascidos na América. Na realidade, esse era o único cargo político que os criollo podiam ter. As Audiencias eram tribunais de justiça encarregados de aplicar as leis e julgar aqueles que as desobedecessem . Os cargos das Audiencias eram ocupados pelos chapetones ou peninsulares, homens nascidos na Espanha e que residiam nas colônias.
A situação nas colônias - As reformas dos Bourbons tiveram ampla repercussão nas colônias espanholas, e o comércio entre elas foi sendo liberado gradualmente. Desse modo, aumentaram os contatos comerciais e a circulação de produtos entre as colônias, e também entre elas e as nações estrangeiras, que proporcionavam maiores lucros para os criollos. O enriquecimento das elites criollas, porém, não veio acompanhado de maior participação política. Os cargos mais importantes, como os de vice-rei, capitão-geral e o arcebispado, continuaram sendo ocupados apenas pelos espanhóis peninsulares, isto é, pelos chapetones. O descontentamento dos criollos aumentou em fins do século XVIII, quando a Espanha, envolvida em guerras na Europa, aumentou a cobrança de impostos.
A influência europeia - No final do século XVIII, à medida que os princípios iluministas eram difundidos nas colônias americanas, o ideal de independência dos colonos foi se fortalecendo. Os pensadores iluministas defendiam a organização da sociedade em base em princípios racionais e criticavam o Absolutismo. Os iluministas acreditavam ainda que o mercantilismo era um sistema político-econômico ultrapassado, combatiam a intervenção do Estado na economia e defendiam as liberdades individuais. Essas críticas ao modelo político e econômico que vigorava na Europa foram bem recebidas pelos colonos americanos. A Revolução Francesa, adotou as ideias iluministas de igualdade, liberdade e fraternidade, também influenciou no processo de independência das colônias espanholas e da colônia portuguesa na América (Brasil).
Invasão napoleônica na Espanha - Entre os anos 1807 e 1808, o exército do imperador francês Napoleão Bonaparte invadiu a península Ibérica com o objetivo de fazer valer o Bloqueio Continental, impedindo o comercio de Portugal e Espanha com a Inglaterra. Nessa ocasião o rei espanhol, Fernando VII, foi deposto, preso e levado para o exílio na França. Na América a repercussão da queda do rei espanhol foi imediata e aumentou o desejo dos colonos de lutar por sua independência. As elites coloniais, então, organizaram-se em juntas governativas que, em um primeiro momento, apenas resistiram à dominação francesa, tentando ampliar sua relativa autonomia política. Mas, com o retorno de Fernando VII ao trono espanhol, em 1814,, retornou também a política absolutista, fazendo com que o sentimento separatista adquirisse ainda mais força na América espanhola.
Aspectos da sociedade colonial - A sociedade da América espanhola era formada por diferentes grupos, entre eles, os chaapetones, os criollos, os mestizos, os indígenas e os escravos africanos. Os chapetones, ou peninsulares, eram responsáveis tanto pela importação de produtos europeus quanto pela exportação da produção colonial para a Europa. Além disso, a coroa espanhola cedia a esse grupo os cargos administrativos mais importantes nas colônias, garantindo assim a sua lealdade. Os criollos, geralmente, eram grandes proprietários rurais, comerciantes e exploradores de minas. Juntamente com os chapetones, os criollos constituíam a elite colonial. Embora nem todos fossem ricos, os criollos viviam em condições muitos melhores que os grupos sociais considerados não brancos. Apesar disso, os criollos se sentiam discriminados pelos chapetones e estava em constante tensão com as autoridades espanholas. Os mestizos eram, em sua maioria, filhos de mães indígenas e pais espanhóis, mas também podiam ser originados da união de europeus e africanos, assim como de indígenas e africanos. No decorrer do período colonial, esse grupo cresceu e causou preocupação à Coroa espanhola, que temia revoltas sociais. Os mestizos exerciam trabalhos ligados, principalmente, ao artesanato e ao pequeno comércio. Assim como os indígenas e os africanos livres ou escravos, os mestizos não tinham acesso à educação e tampouco aos cargos públicos. Os indígenas constituíam a maior parte da população colonial. Os colonizadores espanhóis, para garantirem seu lucro, obrigavam os indígenas a trabalhar nas minas e nas fazendas em troca de uma baixíssima remuneração. O pesado regime de trabalho imposto às populações indígenas e as doenças trazidas pelos europeus fizeram com que o número de nativos diminuísse muito logo nos primeiros anos após a conquista de seus territórios. A mão de obra africana também foi utilizada nas colônias espanholas na América. Os escravos africanos trabalhavam com construtores, carregadores de mercadorias e prestadores de serviços domésticos. Nas Antilhas, os africanos trabalhavam, principalmente, nas lavouras de cana-de-açúcar.
O processo de independência - No final do século XVIII, as condições de vida das pessoas pobres na América espanhola eram precárias e as condições de trabalho forçado nas lavouras e nas minas eram muito difíceis. Nesse contexto, surgiram as primeiras manifestações de insatisfação contra o governo espanhol. Essas manifestações de caráter popular, compostas essencialmente por indígenas e mestizos, foram duramente reprimidas.
Em 1780, um movimento popular liderado pelo indígena José Gabriel Tupac Amaru foi responsável por um levante que repercutiu em diversas regiões do Vice-reino do Peru. Os rebeldes atacaram os corregidores (chefes políticos locais), saquearam as obrajes (ofinas têxteis que exploravam a mão de obra indígena) e ocuparam aldeias.
No princípio, esse levante popular contou com a participação de alguns criollos que estavam insatisfeitos com o governo espanhol , principalmente porque eram obrigados a pagar altos impostos. Porém, muitos criollos, assustados com a violência dos rebeldes, decidiram apoiar a Coroa espanhola no combate ao movimento, procurando preservar seus interesses. Após vários conflitos, o movimento rebelde se desintegrou e seus líderes, incluindo Tupac Amaru, foram executados.
As condições para a independência - Somente quando as elites coloniais passaram a se interessar pela separação política da Espanha foi que os processos de independência na América ganharam força. A partir do início do século XIX, com a invasão napoleônica na Espanha, as elites criollas se fortaleceram e passaram a controlar as juntas governativas. Havia, no entanto, divergências mesmo entre os membros da elite. Leia o texto:
[Havia] os que defendiam a fidelidade ao rei Fernando VII [e havia] aqueles que desejavam a autonomia das juntas para governar, embora em nome do rei; [havia também os] partidários da completa independência ante à Metrópole. No decorrer das lutas, a tendência que aspirava à completa autonomia foi se impondo às demais até se tornar dominante. [....]” (AQUINO, Rubin Leão de. História das sociedades americanas. 7ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 209)
A emancipação da América do Sul espanhola - À medida que o Estado espanhol se mostrava mais fraco e decadente, as elites coloniais passaram a apoiar as independências de suas colônias como forma de proteger seus interesses políticos e econômicos contra o avanço do Império Napoleônico. A partir de 1810, começara as primeiras insurreições pela independência nas capitanias da Venezuela e do Chile, e no Vice-reino do Rio da Prata, que hoje corresponde aos atuais territórios do Paraguai, Uruguai, Argentina e parte da Bolívia. O criollo San Martín, nascido na atual Argentina em 1778, liderou os movimentos pela independência desse país e colaborou para a libertação do Chile e do Peru. San Matín planejava criar Estados independentes na América, cada qual governado conforme os interesses da população. Ao norte do continente, Simón Bolívar liderou a independência da Grã-Colômbia. Bolívar era um militar centralista, que acreditava em um poder forte e único composto por Estados independentes, porém solidários entre si, e que formassem uma confederação. Embora os processos de independência na América tenham ocorrido de maneiras diferentes em cada região, de modo geral eles foram liderados pelas elites criollas. Apesar de lutar pela liberdade política e econômica das colônias, os membros dessas elites procuraram manter a mesma estrutura social do período colonial, e não promoveram melhorias importantes nas condições de vida das populações mestiças, indígena e escrava.
A fragmentação política - Após a criação da República da Grã-Colômbia, Simon Bolívar organizou o Congresso do Panamá. Com esse Congresso, Bolívar desejava unificar todas as regiões recém-emancipadas na América espanhola. No entanto, o antigo Império espanhol se fragmentou em vários países. O fracasso desse projeto de união ocorreu em razão de vários fatores. Um deles é que as elites criollas das diversas regiões do antigo Império espanhol na América acreditavam que seria mais fácil negociar com caudilhos de outros locais que, geralmente, possuíam interesses divergentes. Outro fator deveu-se à influencia dos interesses da Inglaterra e dos Estados Unidos. Para esses países, a fragmentação da América espanhola em vários países fracos faria com que eles tivessem dificuldades em se opor às imposições econômicas e políticas dessas nações, que assim tirariam proveito dessa conjuntura. Havia, também, dos pontos de vista geográfico e econômico, grande diferença e isolamento entre as ex-colônias espanholas na América, o que dificultava sua união em um projeto comum de Estado latino-americano.
A independência do México - As lutas contra o domínio espanhol no México começaram com levantes populares liderados pelo padre Miguel Hidalgo, a partir de 1810. Os principais objetivos do movimento eram a independência do Vice-reino da Nova Espanha e a transferências das propriedades rurais dos chapetones e dos criollos para a população nativa. Hidalgo chegou a reunir um exército de aproximadamente 30 mil pessoas, formado por indígenas e mestizos, e invadiu a Cidade do México. Em 1811, porém, as tropas reais espanholas conseguiram conter o movimento, executando grande parte dos revoltosos. Após ser capturado, o padre Hidalgo foi julgado pelo tribunal da Inquisição e condenado à morte. José Maria Morelos, outro padre mexicano, continuou a luta pela independência iniciada por Hidalgo. À frente do movimento, Morelos obteve alguns avanços, chegando a proclamar a independência do México em 1813 e, no ano seguinte, a promulgar a primeira Constituição do país. No entanto, nem a proclamação de independência e tampouco a Constituição foram reconhecidas pelo governo espanhol.
O movimento pelo reconhecimento da independência mexicana continuou durante anos. Mestizos e indígenas organizara-se em grupos armados que, espalhados por todo o México, combatiam tropas reais. A elite criolla, no entanto, interessada em permanecer no poder e com receio da participação direta da população no governo, decidiu entrar em acordo com os rebeldes. O militar criollo Agustín de Iturbide fez um acordo com os rebeldes e proclamou a independência do México em 1821, estabelecendo uma Monarquia Constitucional e tornando-se imperador mexicano. Porém, em 4 de outubro de 1824, um grupo de militares contrários à política vigente proclamou a República mexicana e oficializou o catolicismo como religião do país, que passou a se chamar Estados Unidos Mexicanos.
Uma semana após a independência do México, em 1821, as capitanias gerais da Guatemala, que incluíam os atuais territórios de Chiapas, Guatemala, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica e Honduras, também se declararam independentes e se incorporaram ao Império Mexicano. Em 1823, elas se separaram do México e formaram a Federação Independente das Províncias Unidas da América Central. A partir de 1838, essa federação se desfez e cada país se tornou autônomo, com exceção de Chiapas, que ainda hoje é território mexicano.
A independência de Cuba - Desde o final do século XVIII, a ilha de Cuba havia se tornado uma grande produtora de açúcar e, assim como nas outras colônias espanholas das Antilhas, os colonizadores utilizaram mão de obra escrava africana na lavoura canavieira. A grande quantidade de africanos na ilha passou a preocupar a elite cubana. Eles temiam o “haitianismo” e, para não sofrerem as mesmas consequências da elite haitiana, mantinham sempre um rígido controle sobre os escravos. Além disso, as elites cubanas tinham certa autonomia comercial, pois no início do século XIX, a Coroa espanhola havia liberado o comércio entre Cuba e os Estados Unidos. Dessa forma, boa parte da elite cubana não tinha interesses separatistas, o retardou o processo de independência do país. A primeira guerra de independência aconteceu durante os anos de 1868 e 1878, sob o comando de Carlos Manuel Céspedes. Dono de um engenho, Céspedes libertou seus escravos para lutarem pela independência. No entanto, a maioria dos grandes fazendeiros não aderiu à luta, e a revolta foi esmagada pelo exército espanhol.
A segunda guerra de independência aconteceu entre os anos de 1895 e 1898. Nessa ocasião, a revolta foi liderada pelo político e escritor criollo José Marti. Os revoltosos estava insatisfeitos com o aumento dos impostos cobrados pela Espanha e com os altos custos que a manutenção do exército espanhol em Cuba causava aos criollos. O movimento de separação, iniciado pelos partidários de Marti, acabou ganhando força e derrotou o outro grupo da elite cubana que pretendia incorporar Cuba aos Estados Unidos. Em 1898, quando a independência de Cuba estava prestes a ser conquistada, os Estados Unidos invadiram a colônia e declararam guerra à Espanha. Os norte-americanos utilizaram como pretexto para a invasão o bombardeio, supostamente realizado por forças espanholas, de uma embarcação americana enviada a Cuba para proteger os cidadãos norte-americanos que viviam na ilha. No entanto, o objetivo do governo norte-americano era ocupar as últimas colônias espanholas e dar início a uma política intervencionista na América Latina. Assim, Cuba e Porto Rico foram ocupados pelas tropas norte-americanas. Porto Rico se tornou colônia dos Estados Unidos e Cuba foi considerada pelo governo estadunidense e como um território sujeito à intervenção. Em 1901, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Emenda Platt. Essa emenda foi incluída na Constituição de Cuba e estabelecia o direito norte-americano de intervir na ilha sempre que seus interesses fossem ameaçados, além de obrigar Cuba a ceder partes de seu território para a instalação de bases militares. As tropas estadunidenses deixaram Cuba em 1902, após instalares a base de Guantánamo. Essa base continua em poder dos Estados Unidos até hoje, apesar dos protestos do governo cubano.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A Conquista da América

Antes da chegada dos europeus nosso continente já era habitado por diferentes povos, chamados genericamente de índios. No entanto, se prestarmos atenção, hoje, os países da América falam um idioma diferente da língua de seus primeiros habitantes e grande parte de sua população já não possui mais a aparência idêntica a dos indígenas – o que percebemos é uma imensa mistura de raças.
Para os nativos, a chegada dos europeus trouxe consigo inúmeros prejuízos: sua população, que antes somava milhões de pessoas, diminuiu drasticamente; seus hábitos, costumes e culturas foram desprezados e considerados inferiores pelos homens brancos que, pouco a pouco, passaram a ocupar suas terras e impor a sua lei. Mas... se eram milhões de índios, por que eles não lutaram contra esses brancos invasores? Os astecas, incas e maias, por exemplo, construíram grandes impérios. Será que eles não tinham soldados para lutar?!
Na verdade, a conquista desses impérios não foi tão rápida assim. Houve muitas guerras e os espanhóis utilizaram diversos recursos para dominá-los: desde a violência física até o terror psicológico. Esses invasores brancos possuíam armas de fogo, espadas, canhões, cavalos e cachorros, arsenais de guerra completamente desconhecido pelos indígenas. Mesmo sendo um aspecto muito importante, não podemos atribuir a conquista apenas às armas de fogo – afinal, esses povos também possuíam armas, como arcos, flechas envenenadas, pedras, lanças e atiradeiras, além de serem numericamente superiores aos poucos homens que acompanhavam esses conquistadores.
Outros fatores também contribuíram decisivamente para a conquista: as doenças trazidas pelos brancos, como o sarampo, a varíola, o tifo e a gripe, mataram milhares de índios. Além disso, os espanhóis perceberam que os Impérios Asteca e Inca tinham sob seu domínio outros povos que eram obrigados a pagar pesados tributos e prestar serviços para esses imperadores, e que estavam descontentes com essa situação. Os conquistadores, então, se uniram aos inimigos dos astecas e dos incas para derrotá-los. A aliança com esses povos foi fundamental para a vitória dos espanhóis.
Os conquistadores não se privaram de massacrar muita gente, destruir cidades, templos e palácios e escravizar os índios subjugados até que Hernán Cortés conseguisse dominar o Império Asteca, em 1521, e Francisco Pizarro, o Império Inca, em 1533. Mas por que os espanhóis queriam conquistar tantas terras? Ocorre que esses conquistadores estavam empenhados em encontrar riquezas, e perceberam rapidamente que essas terras possuíam muitos metais preciosos a serem explorados, como o ouro e a prata. Após a conquista, os territórios dominados transformaram-se em colônias da Espanha. A participação da Igreja Católica nesse processo foi muito importante – a cruz e a espada (representando a religião e a força) mantiveram-se unidas na tarefa de colonização da América. Coube aos missionários, por meio da catequização, converter os povos indígenas à religião católica e transmitir-lhes os valores da cultura europeia, forçando-os a abandonarem seus antigos hábitos, comportamentos, crenças e deuses. Foram fundadas dezenas de Igrejas por toda a América, e muitos índios passaram a viver em povoados (aldeamentos/missões) criados pelos missionários católicos. O entendimento das diferenças culturais e o respeito ao modo de vida dos habitantes nativos não era uma questão que passasse pela cabeça dos colonizadores. Para eles, os índios eram povos bárbaros e selvagens, que precisavam ser ‘civilizados’.
Não tardou para que os espanhóis encontrassem uma grande mina de prata em Potosí, na Bolívia. Eram os indígenas que faziam a extração do metal, num regime de trabalho compulsório. Isto significa que eles eram obrigados a trabalhar para os colonos espanhóis, embora juridicamente não fossem considerados escravos. Para explorar a mão de obra indígena, os espanhóis adotaram um sistema de trabalho baseado em antigas práticas dos astecas e incas, conhecida como mita ou cuatequil.
Sistemas de trabalho na América Espanhola: - Encomienda: dava aos colonos espanhóis o direito de controlar aldeias e cobrar tributos, sob a forma de produto ou trabalho, fosse na agricultura ou nas minas. Em contrapartida, o encomiendero devia pagar impostos à Coroa e cuidar da catequização das comunidades indígenas sob a sua “proteção”. - Repartimientos: colonos espanhóis encarregavam os chefes indígenas da seleção dos homens que fariam o trabalho temporário nas fazendas ou nas minas, principal atividade para onde eram encaminhados. Já nas Antilhas (ilhas da América Central), a mão de obra predominante era a de escravos africanos, onde trabalhavam no cultivo da cana-de-açúcar. As condições de trabalho nas minas eram péssimas, e milhares de ameríndios morreram em consequência da exploração de metais preciosos. Muitos missionários católicos denunciaram os maus-tratos a que estavam submetidos esses índios, e se opuseram à sua escravização.
A sociedade que se formou na América colonial lembrava, em muitos aspectos, a sociedade espanhola, com as mesmas divisões e privilégios. O nascimento, a ‘cor branca’ e o nível econômico eram critérios importantes para marcar a posição de um indivíduo e estabelecer as diferenças sociais.
Os espanhóis e seus descendentes formavam o grupo mais privilegiado desta sociedade, do ponto de vista político e econômico, possuindo direitos diferenciados. Esses espanhóis, conhecidos como chapetones, dominavam a política na colônia, pois ocupavam os cargos administrativos mais importantes, controlavam a justiça e o aparato militar. Outro grupo que gozava de prestígio eram os criollos, filhos de espanhóis que haviam nascido na América. Eles eram donos de grandes propriedades de terras, exploravam as minas e praticavam comércio. Embora não ocupassem os mais altos cargos da administração colonial, participavam dos Cabildos (conselhos municipais), controlando a política local.
Abaixo desses dois grupos estavam os mestiços (fruto da miscigenação entre espanhóis e indígenas), os indígenas e os escravos africanos, em situação oposta. Os indígenas formavam a maioria absoluta da população e representavam a principal mão de obra da colônia, trabalhando nas minas, na agricultura e na construção de obras públicas. Eles eram extremamente explorados e viviam em condições miseráveis.
A relação entre a metrópole (país que coloniza) e a colônia (região ocupada) foi marcada pelo Pacto Colonial, que buscava garantir para os colonizadores o direito de exclusividade (monopólio) sobre o comércio, evitando, assim, a disputa de mercado com outras nações. De acordo com o Pacto Colonial, as colônias só poderiam comprar e vender produtos para a sua metrópole, e a sua produção deveria ser organizada de modo a gerar lucro e riqueza para os colonizadores.
Mas o monopólio comercial exigido pela metrópole não funcionou muito bem na prática, sendo comum o contrabando de mercadorias e a pirataria (saque de navios), atividade na qual os ingleses se destacaram. Mesmo assim, a exploração colonial gerou tanta riqueza para a Espanha que, pouco tempo depois da conquista da América, ainda no século XVI, ela era a maior potência da Europa. Os comerciantes europeus envolvidos no comércio ultramarino também obtiveram lucros extraordinários. Ainda hoje, é possível observar as marcas da colonização na vida dos descendentes indígenas em toda a América Latina. Muitos deles continuam em situação de pobreza, são discriminados e lutam por reconhecimento e direitos que deveriam fazer parte da vida de qualquer cidadão.

Guerra do Paraguai - duas explicações

TEXTO I
"[O progresso paraguaio] começou a preocupar a metrópole inglesa. [...] A própria metrópole via-se desafiada por um exemplo que, frutificado, poderia abalar seu domínio. As causas da Guerra do Paraguai, crescendo desde o início do século, adquiriram contornos nítidos na medida em que o povo guarani consolidava seu progresso. Os bons resultados que [o Paraguai] [...] obteve nas relações internacionais [...] serão anulados sob quaisquer pretextos, para que um país economicamente emancipado não abale o equilíbrio na Bacia do Prata. Um equilíbrio que significava manter o domínio do capital inglês sobre os dois mais importantes países da América do Sul, Brasil e Argentina." (CHIAVENATO, José Julio. Genocídio americano: a Guerra do Paraguai. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 81)
TEXTO II "A Guerra do Paraguai foi fruto das contradições platinas, tendo como razão última a consolidação dos Estados nacionais na região. Essas contradições se cristalizaram em torno da Guerra Civil Uruguaia iniciada com o apoio do governo argentino aos sublevados, na qual o Brasil interveio e o Paraguai também. Contudo, isso não significa que o conflito fosse a única saída para o difícil quadro regional. A guerra era uma das opções possíveis, que acabou por se concretizar, uma vez que interessava a todos os Estados envolvidos. Seus governantes,tendo por base informações parciais ou falsas do contexto platino e do inimigo potencial, anteviram um conflito rápido , no qual seus objetivos seriam alcançados com o menor custo possível. [...]" (DORATIOTO,Francisco. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 93)
QUESTÕES: a) Os dois documentos acima, tratam-se de textos historiográficos. Identifique os autores e os títulos de suas respectivas obras. b)Como a eclosão da Guerra do Paraguai é explicada no primeiro texto? c) Qual o fator apontado como responsável pelo conflito no segundo texto? d) As duas visões sobre a Guerra do Paraguai são complementares ou contraditórias? Justifique:

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A PRIMEIRA REPÚBLICA

REPÚBLICA VELHA? / PRIMEIRA REPÚBLICA?
Durante muito tempo a fase inicial da República brasileira foi chamada de “República Velha”. O termo nasceu após 1930, quando um movimento liderado por Getúlio Vargas derrubou os grupos políticos e sociais que então comandavam o país. Os novos governantes definiram seu tempo como “República Nova” e trataram o período anterior como “velho”, “ultrapassado”, “encerrado”. Outra expressão usada pra designar os primeiros tempos republicanos no Brasil é “República Oligárquica”. Esse termo enfatiza o fato de que o poder, naquele período, se concentrava nas mãos das oligarquias estaduais, ou seja, das poderosas famílias latifundiárias. O NASCIMENTO DE NOSSA REPÚBLICA
No dia 15 de novembro de 1889, a república foi proclamada no Brasil. Deposto, Pedro II e sua família foram obrigados a partir para o exílio em Portugal. O país passava pela primeira grande mudança de forma de governo desde a proclamação da independência. Os republicanos estavam divididos em vários grupos. Alguns, como o advogado Silva Jardim, propunham transformações mais radicais, com a abertura de espaços na política para a atuação popular. Outros, como o jornalista Quintino Bocaiuva, defendiam mudanças mais moderadas e limites para a participação política da sociedade. Existia também um terceiro grupo, composto de positivistas liderados por Benjamim Constant, que eram partidários da instauração de uma “ditadura republicana” controlada por militares. No embate entre esses grupos, prevaleceu a moderação e o interesse em manter a ordem social vigente. Os militares, que lideraram a proclamação da república, assumiram o comando do governo provisório, instituído após a queda da monarquia. O GOVERNO DEODORO DA FONSECA
A chefia do governo provisório foi assumida pelo marechal Deodoro da Fonseca, um dos líderes da proclamação da república. O novo governo era composto de representantes das várias tendências republicanas, com exceção dos radicais. Ele dissolveu as Assembleias Provinciais e as Câmaras Municipais e destituiu os presidentes de províncias (governadores da época). Iniciava-se o processo de reorganização do poder político, que não impediu o domínio das oligarquias locais, mas assegurou sua obediência ao novo regime. O novo governo convocou eleições para a Assembleia Constituinte, que elaborou um projeto constitucional. Em fevereiro de 1891, nascia a primeira Constituição do Brasil Republicano. A Assembleia, transformada em Congresso Nacional, também escolheu, por eleição indireta, Deodoro da Fonseca como presidente constitucional e o marechal Floriano Peixoto como vice. A forte centralização política nas mãos do presidente, porém, desagradou os setores oligárquicos regionais, que defendiam maior autonomia para os estados. Além disso , exigiam uma participação mais ativa na definição dos rumos econômicos do Brasil, que, desde 1890, vivia uma profunda crise financeira, conhecida com Encilhamento. As dificuldades políticas levaram Deodoro a dissolver o Congresso e a defender reformas constitucionais que lhe assegurassem maiores poderes, o que desagradou ainda mais os opositores do governo. Pressionado, Deodoro acabou renunciando à presidência em novembro de 1891. A REPÚBLICA SE CONSOLIDA
Floriano Peixoto assumiu a presidência em 1891 e se esforçou para controlar a inflação e recuperar a economia. Apesar de as novas medidas não terem resolvido a crise econômica, algumas delas levaram o governo a obter algum apoio popular, sobretudo entre trabalhadores pobres da capital federal. O controle dos preços dos alugueis e de alguns alimentos e a isenção de impostos nas vendas de carne, por exemplo, atenuaram os protestos populares contra a nascente república. Floriano consolidou o regime republicano por meio da centralização política e do comando rigoroso das forças armadas. Ele enfrentou as duas principais manifestações do período: a Revolta da Armada e a Revolução Federalista. Nos dois casos, a repressão foi violenta e o governo republicano mostrou sua disposição de não tolerar mobilizações oposicionistas. A Revolta da Armada explodiu em setembro de 1893. Os oficiais da marinha do Rio de Janeiro recusaram o domínio do exército e a limitada participação da armada na política brasileira. Insatisfeitos, eles se rebelaram e exigiram novas eleições. Os conflitos se prolongaram até março de 1894 e incluíram o bombardeio da cidade do Rio de Janeiro pelos encouraçados da marinha. A Revolução Federalista estourou no Rio Grande do Sul, em 1893. Os combates foram travados entre republicanos partidários de Floriano Peixoto, que defendiam o presidencialismo e a forte centralização e federalistas, defensores de um Estado parlamentarista menos centralizado. As lutas se estenderam pelo Rio Grande do Sul e atingiram os estados de Santa Catarina e Paraná. A revolta foi derrotada pelo governo, em 1895, deixando um saldo de aproximadamente 10 mil mortos. POLÍTICA DOS GOVERNADORES
Em 1894, Prudente de Moraes ganhou as eleições pelo Partido Republicano Federal, tornando-se o primeiro presidente civil do Brasil. A principal aliança ocorria entre os setores oligárquicos mineiro e paulista. São Paulo, grande produtor de café, era a principal força econômica do país. Já Minas Gerais, produtor de leite, era o estado com o maior número de eleitores. Por esse motivo, muitos historiadores usaram a expressão “política do café com leite” para definir o período. Embora essa associação entre as elites dos dois estados tenha sido fundamental, é equivocada a ideia de que mineiros e paulistas se alternavam na presidência. Os três primeiros presidentes civis, por exemplo, foram paulistas, mas teve presidente gaúcho, paraibano e até fluminense, embora este tenha feito toda sua carreira política em São Paulo. Apesar de os políticos e os cafeicultores do estado de São Paulo e Minas Gerais terem forte influência política durante a Primeira República, os acordos oligárquicos não se resumiam ao “café com leite”. Pelo contrário, havia muitas divergências internas, e representantes de outros estados também governavam. O principal exemplo desse jogo político foi chamada de política dos governadores.
A política dos governadores ou política dos estados, arquitetada por Campos Salles, foi um sistema de alianças entre o governo federal e os governos estaduais, estes últimos controlados pelas oligarquias locais. O governo federal procurava não interferir nas disputas locais e atribuía aos presidentes dos estados (governadores) a definição de seus representantes no Congresso. Tais representantes eram escolhidos em eleições diretas, quase sempre fraudulentas, e se comprometiam a apoiar a presidência. A Comissão de Verificação de Poderes, controlada por pessoas ligadas ao presidente e encarregada de diplomar os deputados eleitos (validar a eleição), impedia que eventuais candidatos da oposição chegassem ao Congresso. Por meio desses acordos, o governo central ganhava força, neutralizava os parlamentares da oposição e garantia a manutenção do controle político local pelas oligarquias estaduais. O sistema articulava os diferentes estados da União; porém, os estados economicamente mais fortes tinham mais peso nas decisões. Dessa forma, apesar de não ter havido nenhum presidente de São Paulo por vinte anos, a oligarquia paulista manteve-se hegemônica.