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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A REVOLTA DOS MALÊS

No ano de 1835, ocorreu em Salvador, Bahia, a Revolta dos Malês. Mas quem são os malês? A vocábulo “male” deriva da palavra da língua ioruba “imale”. Eram considerados malês os negros mulçumanos que resistiram e reagiram à imposição do catolicismo, mantendo sua crença e cultura. Bastante instruídos, por vezes, até mais do que seus senhores, os malês organizaram inúmeros levantes, o mais conhecido é a Revolta dos Malês. Entre os líderes dos malês estavam Pacífico Licutã, Manuel Calafate e Luis Sanim, juntos, conseguiram munição, armamentos e elaboraram um plano de luta contra os senhores, visando soltar escravos e conseguir liberdade religiosa. A batalha aconteceu no centro de Salvador com os malês atacando subitamente uma patrulha do exército. Porém, uma denúncia alertou sobre o início da revolta.
Na noite de 24 de janeiro de 1835, alguns malês foram cercados pela polícia na Casa de Manuel Calafate, local onde muitos rebeldes foram mortos e presos. As autoridades agiram com rapidez, conseguiram combater ataques aos quartéis de Salvador, expulsando os revoltosos. Ao tentar fugir da cidade, um grupo de mais de quinhentos malês foi barrado na vizinhança do Quartel de Cavalaria em Água de Meninos, onde ocorreram os combates decisivos, todos vencidos pelas forças policiais. Neste confronto morreram sete integrantes da polícia e setenta malês. Aproximadamente duzentos escravos foram detidos no Forte do Mar e julgados nos tribunais. As condenações foram a pena de morte para os principais líderes, trabalhos forçados, fuzilamentos e açoites.
De acordo com o historiador João José Reis: “durante o levante, seus seguidores ocuparam as ruas usando roupas islâmicas e amuletos contendo passagens do Alcorão, sob cuja proteção acreditavam estar de corpo fechado contra as balas e as espadas dos soldados”. A Revolta dos Malês foi controlada com rapidez, mas acabou aumentando o medo de rebeliões de escravos em todas as províncias. O receio era de que os africanos conseguissem sua independência, como acontecera no Haiti naquela mesma época. Isso fez com que os senhores passassem a agir de forma mais rigorosa com os escravos e, em Salvador, os africanos foram proibidos de circular à noite pelas ruas e de praticar as suas cerimônias religiosas.
Curiosidades levante males
Documentos revelam que existia uma sociedade secreta de escravos no Brasil. Numerosa e bem organizada, era dividida em círculos com hierarquia de categorias. Cada um tinha cinco membros, o chefe recebia ordens do mandante superior, que era comandado pelo chefe principal. A maioria dos participantes destes grupos era de escravos melês. Os segmentos tinham Santo Antônio como protetor, ao qual se referiam como El-Banda e os chefes com menor poder de decisão eram chamados Tates-Corongos. As organizações eram tão minuciosas que os chefes supremos não foram descobertos até hoje. Em 1809, a sociedade secreta negra Ogboni atacou fazendas e libertou escravos, em 1816, vários engenhos em Santo Amaro foram incendiados. Já em 1826, o quilombo Urubu quase ocupou Salvador. Uma das técnicas de luta usadas na Revolta dos Malês foi a capoeira. Entre os mortos e feridos da batalha, um livrinho escrito em árabe com trechos do Alcorão foi encontrado no pescoço de um malê baiano.
A revolta dos Malês pode ser compreendida como um conflito que deflagrou oposição contra duas práticas comuns herdadas do sistema colonial português: a escravidão e a intolerância religiosa. Comandada por negros de orientação religiosa islâmica, conhecidos como malês, essa revolta ainda foi resultado do desmando político e da miséria econômica do período regencial.
Com o deslocamento do eixo econômico-admininstrativo do Brasil para a região sudeste e as constantes crises da economia açucareira, a sociedade baiana do período tornou-se um sinônimo de atraso econômico e desigualdade socioeconômica. Além desses fatores, devemos também destacar que as prescrições religiosas incentivadas pelas autoridades locais promoveram a mobilização desse grupo étnico-religioso específico.
Anos antes da revolta, as autoridades policiais tinham proibido qualquer tipo de manifestação religiosa em Salvador. Logo depois, a mesquita da “Vitória” – reduto dos negros muçulmanos – foi destruída e dois importantes chefes religiosos da região foram presos pelas autoridades. Dessa maneira, os malês começaram a arquitetar um motim programado para o dia 25 de janeiro de 1835.
Nesta data, uma festa religiosa na cidade Bonfim esvaziaria as ruas de Salvador dando melhores condições para a deflagração do movimento. Naquela mesma data, conforme a tradição local, os escravos ficariam livres da vigilância de seus senhores. Entre os ideais defendidos pelos maleses, damos destaque à questão da abolição da escravatura e o processo de africanização de Salvador por meio do extermínio de brancos e mulatos. Mesmo prevendo todos os passos da rebelião, o movimento não conseguiu se instaurar conforme o planejado. A delação feita por dois negros libertos acionou um conflito entre as tropas imperiais e os negros malês. Sem contar com as mesmas condições das forças repressoras do Império, o movimento foi controlado e seus envolvidos punidos de forma diversa. Apesar de não alcançar o triunfo esperado, a Revolta dos Malês abalou as elites baianas mediante a possibilidade de uma revolta geral dos escravos.
Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_dos_Malês http://pt.wikipedia.org/wiki/Malês http://www.vivabrazil.com/abolicao_da_escravatura.htm COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e geral. São Paulo: Editora Saraiva, 2005. SCHMIDT, Mario. Nova História: Crítica. São Paulo: Editora Nova Geração, 1999. REIS, José João. A Resistência Negra no Brasil Oitocentista. São Paulo: Editora Senac, 2000.