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terça-feira, 10 de dezembro de 2013
ESTADOS UNIDOS: a conquista do Oeste
* A marcha para o oeste
As treze colônias originais, que formavam a América Inglesa, declararam sua independência da Inglaterra em 1776. A partir de então, novos territórios foram incorporados e se expandiram, comprando alguns territórios, conquistando outros, expulsando e dizimando milhares de indígenas no processo. A área ocupada pelos Estados Unidos cresceu onze vezes, passando de 835 mil km² para 9,3 milhões km². Mas essas colônias e novos territórios formavam um país? Essa era uma dúvida que surgiu em várias ocasiões e se manifestou também quando a Constituição dos Estados Unidos estava sendo elaborada. O que era mais importante: o país como um todo ou cada um dos estados que o constituíam?
Durante o século XIX, os Estados Unidos De 1780 a 1850 a população doa Estados Unidos cresceu consideravelmente: passou de 5 para 23 milhões de habitantes. Esse crescimento foi causado principalmente pela imigração de europeus, sobretudo, da Inglaterra e Irlanda. Rapidamente, os norte-americanos iniciaram o avanço em direção ao oeste. Livres da metrópole, eles não precisavam mais respeitar a proibição de ultrapassar os Montes Apalaches.
Nos primeiros anos do século XIX, os Estados Unidos negociaram com a França a compra da região da Louisiana. Em 1819, os estadunidenses negociaram a compra da Flórida e de territórios na região do Golfo do México com a Espanha. A intenção de incorporar o Texas, território mexicano, levou os Estados Unidos a uma guerra contra o México. Vitoriosos, os Estados Unidos anexaram a região e os atuais estados da Califórnia, Arizona, Novo México, Oklahoma, Colorado, Idaho e parte de Utah.
A expansão dos E.U.A. foi tão rápida quanto violenta e deixou dois saldos opostos. De um lado, representou o nascimento da nação que se tornaria uma das potências mundiais no século XX. De outro lado, trouxe a dizimação da maioria dos indígenas que viviam nas regiões anexadas ao Estado norte-americano.
* A formação de um país -
Para garantir a ocupação do oeste, em 1862 o Congresso dos Estados Unidos promulgou o Homestead Act, a Lei de Terras. Por meio dela, o governo concedia um lote de terra para qualquer família ou indivíduo maior de 21 anos que estivesse disposto a migrar para o oeste e que se comprometesse a torná-lo produtivo no prazo de cinco anos. Essa lei deu à população muitas terras e, com a chegada contrante de imigrantes, favoreceu o desenvolvimento de um amplo mercado interno na região.
Devido às características econômicas e sociais, três regiões diferenciadas se formaram nos Estados Unidos, reafirmando alguns aspectos que já existiam desde o período colonial. O norte definiu-se como um grande centro urbano e industrial, enquanto o sul firmou-se como uma economia agroexportadora e escravista. O oeste, por sua vez, emergia como uma área de pequenos agricultores e criadores independentes.
A expansão também contribuiu para a construção da identidade do povo estadunidense. Em um país jovem e composto por imigrantes de várias origens e religiões, a ideia de que a conquista do oeste era uma epopeia nacional ajudava a unificar todos os habitantes do território e a fazer com se sentissem "norte-americanos".
Um conjunto de mitos e lendas associados à busca do oeste foi forjado e se mantém vivo até hoje.
* O "Destino Manifesto" -
Em 1845, o jornalista John O'Sullivan comparou a expansão dos Estados Unidos em direção às terras do oeste a um Destino Manifesto. A ideia foi recuperada da crença dos imigrantes puritanos do século XVII de que a América seria a nova terra prometida, e que seus habitantes seriam o novo povo eleito por Deus para expandir seu poder na região.
O'Sullivan defendeu a expansão para o oeste como um destino traçado pela Providência Divina, justificando a necessidade de ocupar, até por meios violentos, as terras que pertenciam aos índios, franceses, espanhóis e mexicanos. Ele alegava que os estadunidenses tinham a missão divina de levar a "civilização" aos povos considerados "bárbaros", "inferiores". A doutrina do Destino Manifesto foi largamente empregada pelos meios de comunicação dos Estados Unidos no século XIX e até hoje está presente no imaginário de muitos norte-americanos.
* As diferenças entre o Norte e o Sul -
O crescimento econômico dos Estados Unidos no século XIX ocorria tanto no setor industrial quanto no setor agrícola A produção de tecidos na Inglaterra, que passava pela Revolução Industrial, levou ao aumento da produção de algodão no sul dos Estados Unidos. Em 1850, os E.U.A. eram os maiores fornecedores de algodão do mundo. A grande procura dos produtos sulinos no mercado internacional, em especial do algodão, contribuíram para a manutenção da estrutura escravista colonial. Grandes fazendeiros controlavam as terras férteis e a maior parte dos escravos.
Os estados industrializados do Norte, já nas primeiras décadas do século XIX, ultrapassaram o sul na produção de riquezas. A maior parte dos estados já tinham abolido a escravidão e adotado o modelo capitalista de relações de trabalho, baseado na mão de obra assalariada. No campo, as pequenas propriedades rurais permitiram a formação de uma classe média forte e numerosa. Nas cidades, a elite financeira atuava no comércio internacional e nas atividades industriais e bancárias.
Na segunda metade do século, a manutenção da escravidão nos Estados Unidos eram um tema que gerava grande polêmica e dividia o país.
* A Guerra Civil Americana -
Consolidada a conquista do oeste, a definição das leis que regeriam cada um dos novos estados tornou-se mais um motivo de divergência entre o Norte e o Sul. A integração das novas terras do oeste norte-americano foi um dos principais motivos que conduziram os estados do Sul e os do Norte dos Estados Unidos ao conflito. Os fazendeiros do sul queriam ampliar as áreas de cultivo de algodão, assim como o modelo de mão de obra escrava que prevaleceria na agricultura de exportação sulista.
Os capitalistas do norte, por sua vez, lutavam pela ampliação das áreas destinadas às pequenas propriedades rurais, para que elas abastecessem as grandes cidades da costa atlântica com produtos agropecuários. Além disso, o oeste também poderia ser um mercado consumidor das manufaturas e dos produtos industrializados do Norte.
O projeto econômico a ser adotado pelos E.U.A. foi outro motivo para a eclosão da guerra. Interessado em estimular sua crescente indústria, o Norte defendia o aumento nas tarifas alfandegárias para se proteger da concorrência dos produtos importados e criar um poderoso mercado interno. O Sul, entretanto, queria manter as tarifas baixas para importar a custos mais baixos.
Em 1860, Abraham Lincoln, nortista e contrário à extensão da escravidão aos novos territórios, foi eleito presidente do país. O estado da Carolina do Sul reagiu e separou-se dos Estados Unidos. Dez estados seguiram o exemplo e formaram o Estado Confederado da América. A separação foi o estopim da guerra, que se iniciou em 1861.
O conflito, conhecido como Guerra Civil ou Guerra da Secessão (1861-1864), foi vencido pelo Norte e custou cerca de 600 mil vidas. O Norte contava com mais soldados, recursos de comunicação mais sofisticados e, sobretudo, um desenvolvimento industrial que lhe permitiam estar sempre bem armado e abastecido. Também foi importante a liderança política do presidente Abraham Lincoln, que decretou a abolição da escravidão em todos os estados em 1863, dois anos antes do término da guerra.
* A reconstrução do país -
Em pouco mais de quatro anos de guerra civil, milhares de pessoas perderam a vida, vítimas dos combates e de doenças como tifo, febre amarela e varíola. O país saiu da guerra politicamente unificado, mas as diferenças que levaram as duas regiões ao conflito permaneceram nas décadas seguintes.
O capitalismo industrial passou a comandar os Estados Unidos. Os territórios do norte foram quase que inteiramente preservados na guerra, pois a maior parte das batalhas foi travada no sul. Era preciso, no entanto, reorganizar a economia dos estados do norte, adequá-las aos novos tempos de paz e financiar a reconstrução do país.
O sul, ao contrário, estava arruinado. Cidades e fazendas foram atacadas, saqueadas e queimadas. A estrutura econômica do período anterior deixou de existir no momento em que os estados do sul foram obrigados a libertar os escravos. Os grandes proprietários de terra sofreram perdas drásticas e agora precisavam se ajustar a um mundo sem escravos.
A integração da população negra recém-liberta da escravidão, no entanto, não se deu plenamente. A ascensão de milhares de negros à condição de cidadãos provocou outro tipo de guerra: a guerra racial. Ex-confederados criaram, no Sul, a Ku Klux Klan, organização racista de brancos que se recusava a compartilhar direitos constitucionais com os negros, em plano de igualdade. A KKK matou muitos negros, espancou e mutilou vários outros, sempre com um discurso preconceituoso e discriminatório. Agiam na clandestinidade, mas com a tolerância das autoridades, uniformizados com um manto e um capuz branco. Suas vítimas eram, muitas vezes, enforcadas ou mortas na fogueira, pregadas numa cruz. Com a ilegalidade, a Klan perdeu sua força, mas seria revigorada após a Primeira Guerra Mundial, quando se espalhou por todo o país.
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